quinta-feira, 26 de junho de 2014

Ensaio e erro - Futuro do presente

Quedate allí - Georgina

Do not move! - Dizia a placa vermelha que fiz questão de ler em inglês. Se dessemos um passo que fosse, seria o fim. Estávamos bem, tranquilos e insuperáveis em nossas zonas de conforto, no conforto de nossos distantes lares, lares antes protegidos por nós mesmos, por trás de tantas portas blindadas e invisíveis. Tantos tiros foram dados e nós, imunes, sequer imaginávamos que iríamos nos mover.
Ensaiamos um passo, que mais parecia um balé. Tanta coisa dita em tão curto espaço de tempo - e parecia anos de caminhada juntos, parecia que as pegadas eram firmes no chão, mal podíamos calcular danos. Era uma urgência em se ver, se tocar, quem sabe se amar... Era tanta vontade de apostar e depositar a vida em um mísero passo que erramos, erramos, erramos no ensaio. - Era ensaio! Era para haver erro! Era para incalcular! 
Porém, mais fácil é culpar o tempo e a mudança, vilões de um enredo sem fim. Esses agentes se movem juntos, não percebe? Não existe ensaio para o tempo, não existe uma pré-mudança, você e eu somos o processo em si. Não vamos saber quem seremos no presente, já somos conjugados no futuro do presente, já somos consumados num tempo e num espaço que não dá margem para nenhuma prévia do que será. Nossa prévia é passada, construída num pretérito imperfeito, indicativo de evento inacabado.
E ouvi dizer: Run! - Vozes por trás da placa me avisavam que, apesar de saber que qualquer passo mataria, era preciso correr para tentar, agarrar a oportunidade. Procurei ouvi-las, puxei sua mão. Demos o passo, depois de um ensaio cheio de erros. Por trás da placa, o inesperado: um buraco, uma cova. Só eu cai, porque me jogo, porque me movo em direção às coisas que quero. Meu medo do mundo se foi no pretérito imperfeito. Seu medo ficou no presente. Sei que somos o futuro do presente e do pretérito, mas don't move anymore... Eu quero lembrar do ensaio. Quero lembrar da minha nudez. Quero lembrar que me despi sem tirar minhas roupas. Quero lembrar que andei sem dar um passo sequer e que caí na cova, que morri de novo. Don't move, você não tem que morrer, só se reconstruir. Voltemos, então, às zonas de conforto, aos lares. Já estamos distantes, garanto que nada vai doer tanto. Foram tantos os tiros dados e nós, ainda nos sentindo imunes, mesmo depois de um ensaio de merda, sequer imaginávamos que iríamos nos mover outra vez.

21 de janeiro de 2014

2 comentários:

  1. Me fez refletir sobre os passos da vida que erramos ao dar e caímos mas absorvemos o impacto pra seguir em frente na caminhada, respeitando ou não a placa que diz "Don't move!"

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